03/12/08: Biotecnologia é tema de seminário na EPM

Biotecnologia é tema de seminário na EPM 

No dia 1º de dezembro, teve início, na EPM, o seminário “Biotec sem Mistério”, promovido pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), sob a coordenação do juiz Eduardo Cortez de Freitas Gouvêa. A palestra inaugural foi proferida pela professora Alda Lerayer, diretora-executiva do CIB, que apresentou o histórico da Biotecnologia e a integração entre suas diversas áreas, bem como a questão da biossegurança alimentar.

 Inicialmente, a palestrante explicou que, de acordo com a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) – órgão que decide se os organismos geneticamente modificados são seguros ou não –, a Biotecnologia é um processo tecnológico, que permite a utilização de material biológico, para fins industriais. “Isso quer dizer que se usa organismos vivos para a produção de produtos ou processos de forma mais econômica e eficiente, obtendo maior quantidade”, explicou, salientando que a grande vantagem do melhoramento genético e das ferramentas da Biotecnologia é aumentar a produtividade, em uma mesma área de cultivo.

 

Alda Lerayer lembrou que os processos biotecnológicos já são utilizados desde a Antiguidade, mencionando a obtenção de levedos para a produção de cervejas, vinhos e pães. Entre os principais avanços, citou o desenvolvimento, pelos chineses, de um inseticida, a partir de extratos de plantas (100 d.C.); a vacina contra a Varíola (1797) – que demorou 70 anos para ser aceita; e as descobertas dos microorganismos, por Pasteur (1861), e das Leis da Hereditariedade, por Gregor Mendel (1871).

 

Em relação à Biotecnologia moderna, que faz uso da Engenharia Genética, citou a descoberta da estrutura do DNA, por Watson e Crick (1953), e os experimentos genéticos realizados nos anos 70. Destacou, também, a utilização de microorganismos geneticamente modificados para a produção de insulina humana, iniciada em 1982. “Atualmente, 80% da insulina consumida, no mundo, é produzida dessa forma”, ressaltou, apontando, ainda, como grandes avanços na área, o desenvolvimento das primeiras plantas transgênicas (1983) e a conclusão do sequenciamento do genoma humano (2003).

 

Nesse contexto, salientou que a primeira aplicação da Biotecnologia ocorreu na área médica: “Grande parte dos antibióticos consumidos, hoje, são produzidos por microorganismos transgênicos”, afirmou, citando, ainda, a insulina, a vacina contra a Hepatite B, o hormônio do crescimento e a terapia gênica. Entre as pesquisas em andamento, no Brasil, destacou a clonagem do fator 9 de coagulação do sangue, na soja. O estudo, realizado pela Embrapa, visa baratear a produção dessa substância, essencial para os hemofílicos.

 

A segunda grande aplicação ocorreu na área de  sanificação (detergentes e sabões), com a utilização de enzimas lipolíticas, produzidas por microorganismos transgênicos. “Elas têm a vantagem de serem biodegradáveis, substituindo produtos altamente poluidores do meio ambiente”, afirmou a professora.

A Biotecnologia e a produção de alimentos

Alda Lerayer observou que várias plantas consumidas, hoje em dia, não existiam, naturalmente, sendo obtidas por melhoramento genético. “A modificação do meio ambiente não começou com os transgênicos. Ela acontece desde que o homem passou a cultivar culturas para a sua alimentação, alterando o bioma de uma área. Com isso, modificou o meio ambiente de forma irreversível”.

 

Ela explicou que as plantas geneticamente modificadas ou transgênicas são aquelas que receberam um gene de outro organismo. Entre os produtos desenvolvidos, no Brasil, citou a soja tolerante ao glifosato, ingrediente ativo de um herbicida. Aprovada pela CNTbio, em 1998, seu cultivo ficou proibido, durante cinco anos. “Essa proibição provocou a quebra de muitas empresas brasileiras produtoras de sementes, além da pirataria e da utilização de sementes não-certificadas, que, muitas vezes, estão misturadas a outras não-resistentes ao herbicida ou não-adaptadas ao solo brasileiro”, ressaltou, acrescentando que, quando o cultivo foi legalizado, em 2003, a Embrapa já havia desenvolvido 13 variedades de soja resistentes ao glifosato.  “Durante o período de proibição, a Embrapa perdeu o recolhimento de royalties e os agricultores deixaram de ganhar 4.1 bilhões de dólares”, salientou.

 

A professora destacou a importância do incentivo à pesquisa, no País, uma vez que as soluções, muitas vezes, não podem ser importadas. “É o caso de problemas como a “Vassoura de Bruxa”, que ataca o cacau, e a “Ferrugem da Soja”, que têm sido objetos de pesquisa em vários institutos nacionais”.

 

Ela destacou que, embora a distribuição de alimentos seja uma questão política, a Biotecnologia pode contribuir para o aumento da quantidade de alimentos disponíveis, ao aumentar a produtividade. “Existem 15 milhões de hectares cultivados com organismos geneticamente modificados, no Brasil, número que deve aumentar, neste ano, pois, pela primeira vez, estamos plantando milho geneticamente modificado”, afirmou, lembrando que, ao contrário do que é divulgado, vários países europeus produzem transgênicos.

 

Desinformação e preconceito

 

Alda Lerayer ressaltou que há muita desinformação em relação à Biotecnologia, persistindo diversos mitos. Entre eles, o risco para a biodiversidade: “Isso é um engano, porque o geneticista precisa dispor de uma grande variedade para pesquisar genes de interesse para a melhoria das plantas. Por essa razão, temos os bancos de gemoplasma, em que são conservadas as variedades de plantas, inclusive aquelas que se perdem por falta de cultivo”, explicou.

 

Em relação aos possíveis riscos que os transgênicos representariam para a saúde, Alda Lerayer explicou que, ainda na fase de pesquisa, são analisados os riscos para a saúde humana e para o meio ambiente, verificando-se a toxidade e o potencial em causar alergias. “A avaliação não ocorre quando o produto está pronto, mas desde que a pesquisa é concebida, sendo necessário avaliar o gene que será introduzido, a proteína que será codificada e a construção genética que será feita. Tudo isso deve ser avaliado pela CTNBio, que leva em conta o princípio da ‘equivalência substancial’ para aprovar o produto para consumo”, explicou, acrescentando que um dos benefícios da Biotecnologia é a retirada do poder alergênico dos alimentos, por meio do “silenciamento” do gene que causa a alergia.





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