EPM inicia o curso ‘República, corrupção e estados de exceção’

Christian Dunker e Vladimir Safatle foram os expositores.

 

Com a análise do tema “A república do espetáculo”, teve início, no último dia 30, o curso República, corrupção e estados de exceção da EPM. A aula inaugural foi ministrada pelos professores Christian Ingo Lenz Dunker e Vladimir Safatle e teve a participação dos desembargadores Antonio Carlos Villen, diretor da EPM; e Paulo Magalhães da Costa Coelho, conselheiro da Escola; e dos coordenadores do curso, desembargador Dimas Borelli Thomaz Júnior e juiz Luis Manuel Fonseca Pires.

 

Na abertura dos trabalhos, Antonio Carlos Villen cumprimentou os coordenadores, palestrantes e participantes, ressaltando a importância dos debates no atual cenário político do País. “Tenho certeza de que iremos sair daqui com uma visão um pouco diferente do que está acontecendo, do que já aconteceu e do futuro que nos espera”.

 

Iniciando as exposições, Christian Dunker discorreu sobre as políticas do ódio no contexto brasileiro, a partir da lógica do condomínio. Ele recordou o surgimento desse modelo de habitação, fazendo referência ao filme Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard, que satiriza uma sociedade inteiramente funcional e dividida em castas. “É a forma de mostrar onde é que chegamos com essa política sobre o espaço público, que é a construção de locais para determinadas classes de pessoas”, ponderou, lembrando que Alphaville também é o nome de um dos primeiros condomínios fechados do Brasil, inaugurado na década de 1970, que traduziu o sonho de segurança e qualidade de vida de seus habitantes.

 

Ele observou que esses locais representam a crença mítica de isolamento daquele que é diferente, produzindo uma realidade artificial. “O condomínio cria uma experiência que, do ponto de vista psíquico, é muito perigosa, pois institui entre mim e o outro uma recusa de reconhecimento, que passa inclusive por uma estratégia visual, com a criação de muros que impedem que se veja quem está do outro lado”.

 

O professor ponderou que o próximo passo dessa lógica é a criação de um mundo com regras e maneiras próprias, gerenciadas pelo síndico, “a figura que administra o espaço público, impondo leis locais nas exceções das normas gerais”. E apontou como outro elemento desse imaginário a realização da felicidade. “Dentro de uma vida planejada e perfeitamente administrada, não se pode mais atribuir outro estado às imperfeições do mundo, gerando com isso uma busca pela supressão dessa insatisfação”.

 

A seguir, Vladimir Safatle fez uma reflexão acerca dos julgamentos morais no campo político, ressaltando que são aplicações universais e não feitos para servir a interesses específicos. Ele enfatizou que a política pressupõe um jogo de aparências, que deve ser mantido, e sua revelação está associada ao espanto e não à indignação. “Em última instância, todos agem como se a política fosse impossível, ou seja, como se sua dimensão fundamental fosse a negociação e a corrupção”, afirmou. E acrescentou que, quando essa dimensão é exposta, há uma relativização, alegando-se que outros fizeram pior, e uma defesa da continuação de governabilidade.

 

O expositor mencionou ainda a ideia de que fazer política é lidar com interesses pré-políticos, de grupos diversos, mas mantendo-se a conotação de um discurso de bem comum. “Eu me pergunto se boa parte dos impasses atuais não são uma adesão tácita a esse raciocínio, no qual, para cada um dos atores, a política funciona à sua maneira”. E ponderou que uma sociedade pensada a partir de uma associação entre indivíduos, na qual cada um defende apenas seus interesses, “vai ter que necessariamente naturalizar a corrupção como prática”.

 

FB (texto e fotos)


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