68 - Até quando?
EDISON VICENTINI BARROSO – Juiz de Direito |
Oh, Brasil! Até quando havereis de ver como reis a homens maus? Oh, Brasil! Até quando, no fulgor do vosso destino, estareis exposto a escândalos abismais? Oh, Brasil! Até quando, no vosso seio nobre, vicejará a miséria infame de duros carnavais? Oh, Brasil! Até quando a fereza tigrina, da camarilha ignóbil, escarnecerá vossos anais?
Oh, Brasil! Até quando suportareis a infelicidade da descrença que arde em pavorosos lamaçais? Oh, Brasil! Até quando, do vosso povo inculto e pobre, escarnecerá quem se supõe mais nobre a fomentar vendavais? Oh, Brasil! Até quando, ao soar o sino, alimentareis o choro do homem-menino atribulado pela falta de paz? Oh, Brasil! Até quando a silhueta viperina, da imoralidade que fascina, lhe conspurcará os arraiais?
Oh, Brasil! Até quando, no sussurro do anonimato digno, se ouvirá o som estrídulo da derrocada dos princípios morais? Oh, Brasil! Até quando o desprezo da maldade rirá da hombridade, a se fartar a não poder mais? Oh, Brasil! Até quando, no esmero da malícia, à distância da polícia, se vos levarão os castiçais? Oh, Brasil! Até quando, na cegueira que ora vos invade, brilhará a claridade de tempos bons que não voltam mais?
Oh, Brasil! Até quando, ao relento, em noite escura, ressurgirá a água pura a dessedentar quem não vos trai? Oh, Brasil! Até quando, no remanso destas plagas, lograreis curar vossas chagas, em meio à esperança que se esvai? Oh, Brasil! Até quando a inteligência dos vossos filhos, da maior a mais menina, conviverá com a cantilena da sedução dos maiorais? Oh, Brasil! Até quando vossos filhos pródigos, ressurrectos, limparão o chão da estrada quais se fossem serviçais?
Oh, Brasil! Até quando, no terror da noite fria, que enregela e arrepia, medrarão os espinhais? Oh, Brasil! Até quando a ânsia infrene, de um povo que chora e geme, se curvará e nada mais? Oh, Brasil! Até quando açulará o vento, ao império do desalento, a impedir o renascer das vesperais? Oh, Brasil! Até quando, no picadeiro de vossa vida, se exibirão os saltimbancos quais verdadeiros chacais?
Oh, Brasil! Até quando a chama fria da candeia que ludibria nos terá como boçais? Oh, Brasil! Até quando, na dura porfia, hegemônica será a orgia, a dar trela à súcia dos bacanais? Oh, Brasil! Até quando o bisonho e néscio se nutrirá do insucesso de um povo que nele se compraz? Oh, Brasil! Até quando, à luz da estrada, percorrereis a invernada, à distância da primavera que apraz?
Oh, Brasil! Até quando estareis cativo dos abutres da verdade, comensais da vaidade a impedir vossos fanais? Até quando...
Brasil, oh, meu País! Quando vossos filhos despertarem, então os vereis a sussurrardes quão grande é o vosso valor Brasil, oh, meu País! Nesse dia de alegria, não mais a mão da noite fria, mas a quentura do fervor Brasil, oh, meu Brasil! Tende fé e esperança nesse povo que principia a sair do seu casulo Porque, Brasil querido, se aproxima a grande dita da liberdade esclarecida pela chama do amor.
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