EPM inicia o curso ‘Pensando o futuro da cidade II’ com debates sobre urbanismo e arquitetura
Discussões sobre os desafios urbanos contemporâneos.
Teve início hoje (20) na EPM o curso Pensando o futuro da cidade II, com exposições das professoras Ana Fani Alessandri Carlos e Paula Freire Santoro e do arquiteto Silvio Oksman, que analisaram a cidade sob perspectivas críticas da geografia, do urbanismo e da arquitetura.
A abertura foi conduzida pelo desembargador Carlos Otávio Bandeira Lins, coordenador da área de Direito Urbanístico da EPM e do curso, que ressaltou a importância de manter o debate sobre o tema mesmo em períodos em que o assunto parece afastado do cotidiano. “É justamente nesses momentos de maré baixa, quando as atenções se voltam a outros temas, que precisamos pensar e discutir a cidade, para evitar que decisões desordenadas se imponham sobre seu futuro”, afirmou.
A juíza Cynthia Tomé, também coordenadora do curso, destacou a relevância da formação para ampliar o conhecimento sobre a realidade urbana. “Muitas pessoas não sabem exatamente o que acontece na cidade e por que acontece. Nosso objetivo é levar essa compreensão a todos e refletir sobre o futuro que desejamos, contribuindo para a melhoria do espaço urbano”, disse.
O presidente da Seção de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ricardo Cintra Torres de Carvalho, enfatizou a relação entre o urbanismo e o equilíbrio ambiental. “Espaço, tempo e equilíbrio são fundamentais para qualquer ecossistema e também para a cidade. O desafio é encontrar harmonia entre esses fatores na vida urbana, em meio à expansão desordenada das metrópoles”, observou.
Iniciando as exposições, Ana Carlos ressaltou que pensar o futuro das cidades exige a integração de diferentes campos do conhecimento. Ela ponderou que a cidade deve ser entendida como uma obra da sociedade e não um sujeito autônomo ou um simples produto técnico. “A cidade é expressão das relações sociais e das contradições do capitalismo, onde o espaço urbano reflete desigualdades e disputas pelo uso e pela propriedade”, afirmou. A professora acrescentou que planejar o espaço urbano sem compreender essas contradições resulta em intervenções que tratam a cidade como “uma folha em branco”, esquecendo que ela carrega memória, história e lutas sociais.
Na sequência, Paula Freire analisou a transformação da moradia em um instrumento de acumulação de renda e capital. A professora explicou que o solo urbano passou a ser lido como mercadoria e a habitação passou a integrar dinâmicas de valorização financeira e especulação. O resultado é um sistema que mantém a desigualdade estrutural e neutraliza mudanças profundas no espaço urbano, ao mesmo tempo em que apresenta uma falsa aparência de política inclusiva.
Silvio Oksman destacou que, embora o Plano Diretor de 2014 tenha sido construído sobre princípios consensuais como mobilidade, preservação do patrimônio e fortalecimento da participação popular, sua execução acabou subordinada à lógica de mercado. “O plano transferiu para o mercado 100% da responsabilidade de fazer e financiar a cidade. Hoje, para que exista qualquer política pública urbana, a cidade precisa que o mercado construa”, concluiu o expositor, que lamentou ainda a perda da diversidade urbana e a homogeneização das cidades.
RL (texto) / MB (fotos)