Corregedor participa de debate sobre fé e multiculturalismo na Jornada Mundial de Direitos Humanos
Com o tema “Fé e multiculturalismo”, foi realizada, no dia 11 de setembro, na EPM, nova mesa de debates da Jornada Mundial de Direitos Humanos: o Novo Constitucionalismo, promovida pela Escola e pelo Grupo do Capitalismo Humanista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
O evento teve a participação do corregedor-geral da Justiça, desembargador José Renato Nalini; do desembargador João Negrini Filho, coordenador da Jornada; do promotor de Justiça Eduardo Ferreira Valério, assessor de Políticas Públicas da Procuradoria Geral da Justiça; do advogado Gilberto Ribeiro dos Santos, presidente em exercício do Instituto Juristas Cristãos do Brasil; e dos professores da PUC/SP Ivo Waisberg, Márcio Pugliesi e Ricardo Hasson Sayeg, também coordenador da Jornada.
Na presidência dos trabalhos, o desembargador Negrini Filho chamou a atenção para a discussão da fé em todos os momentos da vida, citando os trabalhos do professor Sayeg: “A necessidade da fraternidade é apontada como um requisito essencial para o novo desenvolvimento que se apregoa e ele associa essa postura de fraternidade à fé”, lembrou.
Iniciando as exposições, o desembargador Nalini frisou que o tema em debate é urgente e desafiador, mas não tem merecido a atenção geral da sociedade, diante de uma indústria cultural crescente, do consumo total e do mundo da mídia e das redes: “Essa mercantilização integral da cultura faz com haja uma culturalização das mercadorias, provocando uma desorganização cultural da nossa consciência, de nossos modos de vida e das existências, fazendo com que muitos de nós fiquemos sem tempo para refletir e estranhamente perdidos, em uma errância generalizada”.
Ele observou que há uma revivescência religiosa, ponderando que, se não fosse pela propagação de múltiplas seitas confessionais, a violência seria muito mais séria, com tantas pessoas vivendo mal e sendo continuamente alertadas para a importância dos bens que o consumismo mostra como essenciais para a sua felicidade: “Temos 20 milhões de pessoas sem qualidade de vida e espaço para desenvolver a plenitude de suas possibilidades, mas, mesmo assim, há uma multidão que continua levantando de madrugada para trabalhar e levando sua vida sem agressões que ultrapassem os fenômenos que vimos nas manifestações de junho”, ressaltou.
O corregedor destacou, também, o perigo da puerização no Brasil, fazendo que as pessoas aguardem as benesses do Estado e deixem de lado o protagonismo que deveriam ter. “Precisamos, talvez pela redescoberta da fé – não só a religiosa, mas aquela sinônimo de esperança –, ou da confiança em nós mesmos, suprir essa sensação de abandono e resgatar o humanismo, para que possamos acreditar na vocação de cada ser humano para ser melhor, a cada dia, e para ser protagonista da própria vida, não deixando que ela seja ditada por políticas públicas, ainda que, aparentemente, sejam as mais benéficas”, concluiu.
A falta de fraternidade e a redução da capacidade de reflexão diante do consumismo também foi destacada pelo professor Márcio Pugliesi, que ponderou que, em uma sociedade em que há poucos consumidores e muitos sobreviventes, com o deslocamento dos valores para a obtenção dos símbolos de status e poder, os vínculos fraternais há muito foram desfeitos: “Numa sociedade de consumo em que a fé religiosa há muito se esvaiu, temos, como macrossistema, uma concentração progressiva de renda para garantir a existência de investidores, face ao esvaziamento da capacidade de poupança da população, e, se não houver um retorno a uma fé originária, teremos, progressivamente, o recrudescimento de doenças sociais”.
O professor observou, também, que a sociedade se esvazia plenamente quando toma, como seus, objetivos de outras: “No Brasil, temos projetos impostos pela imitação de projetos de outros países e perdemos de vista que ainda não chegamos ao status de uma sociedade de Estado, com uma gestão que considere não apenas os reclamos comunitários, mas, também, a organização de um país com essas dimensões”, ponderou, apontando a importância de uma gestão que leve em conta os vínculos de fraternidade, de diferença e, acima de tudo, objetivos que sejam escolhidos a partir de nossa realidade.
Jornada Mundial de Direitos Humanos
Composta de 19 mesas de debates, a Jornada Mundial de Direitos Humanos: o Novo Constitucionalismo teve início no dia 6 de agosto (data do ataque nuclear em Hiroshima) e prossegue até o dia 10 de dezembro, aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Dentre os próximos temas a serem debatidos, estão a proteção dos direitos humanos da infância e juventude; das mulheres e pessoas homoafetivas; dos trabalhadores; dos enfermos e idosos; os direitos humanos ambientais e os da atividade empresarial e bancária, dentre outros (veja a programação completa).
As inscrições e matrículas para as mesas do mês de outubro podem ser feitas até o dia 30 de setembro, preenchendo a ficha de inscrição diretamente no site da EPM e efetuando a matrícula, conforme descrito no edital específico.