Seminário “Vozes da Cidade” é realizado na EPM
No dia 4 de outubro, foi realizado, na EPM, o seminário Vozes da Cidade, promovido em parceria com a Corregedoria Geral da Justiça.
O evento teve a participação do corregedor-geral da Justiça, desembargador José Renato Nalini, coordenador do evento; do deputado federal e professor Gabriel Chalita; do arquiteto José Armênio de Brito Cruz, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Seção São Paulo; do arquiteto e artista plástico Paulo von Poser; da socióloga Barbara Freitag Rouanet; e do representante do “Movimento Passe Livre” Lucas Monteiro, além de magistrados, advogados, servidores e profissionais de outras áreas.
Iniciando os trabalhos, o desembargador Nalini observou que os magistrados paulistas ficaram impressionados com as manifestações populares de junho, ponderando que elas aparentemente nasceram com a irresignação com o aumento das tarifas de ônibus, mas logo tornaram-se apelos difusos, com a expressão de que algo está contido na comunidade e ela finalmente exprimiu sua voz para mostrar que há descompassos entre o discurso e a prática. “É importante que estejamos atentos a essas manifestações, porque a promessa da democracia participativa foi feita há 25 anos – amanhã a Constituição Cidadã completa um quarto de século – e Constituição Cidadã é aquela que abre espaço à participação da cidadania.
O corregedor ressaltou que o Judiciário tem o maior interesse em auscultar esse clamor popular: “Temos a concepção de que não conseguimos mostrar à cidadania que ela tem condições de resolver seus problemas por meio de diálogo, consenso e participação”, salientou, observando que, se o Judiciário atende todos os pleitos, mas de forma burocratizada e lenta, não será possível contar com uma cidadania ativa e capaz de dialogar. “Esse evento mostra a disponibilidade do Judiciário para ouvir essa cidadania insurgente, que é uma prova de que as pessoas querem se fazer ouvir”, concluiu.
Iniciando as exposições, o artista plástico Paulo von Poser discorreu sobre alguns de seus projetos e apresentou imagens de suas obras, destacando a importância do cuidado e do envolvimento de todos com a questão urbana. Ele ponderou que não é justo obrigar as pessoas a conviver com problemas como a poluição sonora e outros tipos de poluição, a falta de natureza, de espaço de convivência e de perspectivas: “A cidade precisa de uma transformação radical, porque São Paulo e os paulistanos merecem um horizonte mais generoso público e reconhecível”, frisou.
Na sequência, o deputado federal Gabriel Chalita ressaltou que a juventude foi às ruas em junho por uma causa ou indignação, da mesma forma que aconteceu durante as “Diretas já” e outras mobilizações de grande porte, mas destacou a necessidade da reflexão crítica: “A essência dessas manifestações é a consciência de que a resolução desse problema passa pela manifestação popular, mas existem, também, aqueles ‘magoados’, em movimentos que não dizem a que vieram e que estão sujeitos a mudar de opinião, sendo importante que os gestores, os juízes e educadores tenham serenidade e busquem sempre aquilo que é certo”, frisou.
O arquiteto José Armênio de Brito Cruz apresentou um panorama histórico da evolução da Arquitetura no Brasil, bem como das faculdades, citando o déficit de arquitetos no País (100 mil), em relação à demanda por moradias (cerca de 5 milhões). Ele explicou, ainda, as etapas do projeto arquitetônico, frisando que ele representa um importante instrumento democrático para a utilização dos recursos públicos: “No Estado de São Paulo, a população urbana brasileira cresceu 30 vezes nos últimos 50 anos, sendo que 25% das construções realizadas nesse período foi investimento público e 75% com investimento privado, proveniente das economias dos cidadão, bem como dos banqueiros e precisamos de um planejamento urbano de, no mínimo 20 anos”.
Em seguida, a socióloga Barbara Freitag Rouanet apresentou uma visão da cidade a partir das personagens de três obras da escritora Clarice Lispector: “Cidade sitiada”, “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” e “A hora da estrela”. “Clarice Lispector traz, nessas obras, a essência urbana, traçando um paralelo da evolução da cidade com a emancipação da mulher”, salientou.
Encerrando as exposições, o representante do Movimento Passe Livre Lucas Monteiro lembrou que, durante o mês de junho, a população de mais de cem cidades do Brasil tomou, provisoriamente, o controle da gestão dos transportes, usando como arma a própria cidade. “A lógica de construção das cidades, entre elas São Paulo, foi voltada para o automóvel e para os negócios, sem ouvir as demandas populares, excluindo as pessoas dos benefícios de se viver no ambiente urbano”, ressaltou, frisando a importância de se priorizar o investimento no transporte público e defendendo a tarifa zero: “Para que possam conhecer a cidade e usufruir seus benefícios, as pessoas precisam ter condições de se deslocar por ela”.