Presidente do TJSP ministra aula inaugural do curso “História da Ética” da EPM
Teve início hoje (11), na EPM, o curso de extensão universitária e formação continuada História da Ética, com palestras ministradas pelo desembargador José Renato Nalini, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, e pelo professor Luiz Paulo Rouanet, coordenadores do curso. O tema de abertura, “A Ética para o juiz: o desafio interdisciplinar”, teve a participação do diretor da EPM, desembargador Fernando Antonio Maia da Cunha, e do subcoordenador do curso, Wilson Levy Braga da Silva Neto.
Nalini iniciou sua reflexão, “A importância da formação ética do magistrado”, discorrendo sobre a história da criação e o papel das escolas de magistratura no mundo e no Brasil. Ele recordou que a ideia da criação da EPM, concebida como “uma usina de criatividade e laboratório de experimentação”, sofreu bastante resistência, em princípio, até que um grupo de desembargadores criativo e denodado a implementasse.
Adiante, discorreu sobre a importância da Ética no mundo contemporâneo, diante da desordem dos juízos morais. Explicou que ela está fundada na crença da evolução moral da humanidade. “Voltar a certas práticas significaria um recuo da civilização: pena de talião (embora já fosse um progresso, ante a ideia de proporcionalidade), vingança, duelo, tortura legal, suplícios, ordálias, desigualdade de penas para o mesmo delito, segundo raça, casta ou condição social, escravidão, etc.”, ponderou.
De acordo com Nalini, “a Ética pode e deve ser ensinada, porque implica em ser virtuoso. E a virtude, lembrava Aristóteles, não é dom inato: é hábito que se adquire e nele se insiste por força da vontade.” Desta assertiva, concluiu que a escola judicial é o locus onde se deve ensinar a exercitar a virtude.
A Ética e a interdisciplinaridade
Nalini teceu, a seguir, reflexões sobre a condição do magistrado e seu papel na sociedade contemporânea. Na perspectiva do palestrante, para julgar com sabedoria, é preciso estar ciente do caráter multifacetado da vida gregária comum, contrapondo-se a multidisciplinaridade ao conhecimento técnico jurídico, uma vez que “sem uma compreensão holística e interdisciplinar da ética, pouco adiantará a incorporação mnemônica de sua versão codificada. Daí a importância deste curso”, afirmou.
Além desse desafio, apontou, ainda, outras exigências postas ao juiz. “Ele precisa aprender a dialogar: a considerar todas as pessoas suas iguais. Isso é concretizar o supraprincípio da dignidade da pessoa humana. O diálogo elimina a arrogância, a prepotência, a vaidade extremada, o orgulho, o abuso de poder. É uma outra concepção do princípio do contraditório: colocar-se e sentir-se no lugar do outro.”
Do exposto, Nalini concluiu que, no mundo do Direito fundado na ideia da evolução moral, em que a Ética é mais relevante que a técnica, não há mais lugar para a aplicação da máxima “fiat iustitia, pereat mundus” (faça-se justiça, ainda que o mundo pereça), pois hoje o juiz precisa ter a noção das consequências de sua decisão, em seus diversos aspectos sociais.
Interface histórica entre Ética e Direito
Coube a Rouanet a exploração de relações entre a Ética e o Direito na história da Filosofia, na perspectiva de alguns autores e suas obras, como Aristóteles (Ética a Nicômaco), Spinosa (Ética), Kant (A Metafísica dos Costumes) e a Ética universalista, deontológica e cognitivista de Jürgen Habermas.
De Aristóteles, abstraiu e comentou a definição das categorias do justo e do injusto, o entrelaçamento dos princípios de virtude e justiça e a definição do princípio da equidade.
O professor finalizou suas considerações com uma citação do filósofo alemão Habermas, que, ao imprimir um norte teleológico à função do legislador, também define o espectro de atuação do juiz, preservando sua singularidade: “O legislador deve ser sensível às reivindicações sociais sem ser refém delas”.
Curso
Ministrado nas modalidades presencial e a distância, para magistrados de todo o Estado e dos Estados do Acre, Amazonas, Goiás, Roraima, Santa Catarina e Sergipe, bem como outros profissionais do Direito, o curso tem como objetivo geral ampliar a concepção dos alunos a respeito dos indivíduos e das sociedades, por meio da exposição e reflexão sobre a complexidade e multidisciplinaridade das questões de natureza ética. As aulas prosseguem até 17 de novembro, conforme a programação a seguir:
- Módulo I - Antiguidade
Dia 18/8
Tema: Ética Socrático/Platônica
Dia 25/8
Tema: Ética Aristotélica
- Módulo II - Ética Medieval
Dia 1º/9
Tema: Ética na Idade Média
Dia 8/9
Tema: Ética no Tomismo
Dia 15/9
Tema: Ética e Religião
- Módulo III - Modernidade
Dia 22/9
Tema: Ética e Direito em Jean Bodin
Dia 29/9
Tema: Ética Kantiana
Dia 6/10
Tema: Ética e Ciências Humanas
- Módulo IV - Contemporaneidade
Dia 13/10
Tema: Ética no utilitarismo
Dia 20/10
Tema: Ética e Política
Dia 3/11
Tema: Ética e Antropologia
Dia 10/11
Tema: Ética e sociedade
Dia 17/11
Tema: Por uma Ética cosmopolita
Encerramento
ES (texto) / AC (fotos)