Gestão de funcionários e desenvolvimento de lideranças em cartório são debatidos na EPM

A programação do curso Gestão Judiciária de ontem (6) foi dedicada ao temaGestão de funcionários e desenvolvimento de lideranças em cartório”, apresentado pelo juiz Gilson Delgado Miranda, responsável pela Coordenadoria de Cursos de Iniciação Funcional e Aperfeiçoamento para Servidores da EPM. A aula teve a participação do desembargador Fernando Antonio Maia da Cunha, diretor da EPM, e do juiz assessor da Presidência do TJSP Mário Sérgio Leite, coordenadores do curso.

 

Gilson Miranda iniciou a preleção com comentários sobre o gigantismo do Judiciário paulista e, sob este prisma, as dificuldades de gestão derivadas de sua extensão, volume e diversidade funcional. Dois dados do movimento da primeira instância dão a dimensão desse empreendimento público: 51 mil petições iniciais distribuídas por mês, numa ordem de mais de 20 milhões de processos em tramitação. “Trabalhar no TJSP representa um grande desafio, não só pelo seu tamanho, mas também pela sua importância na distribuição da Justiça brasileira”, frisou.

 

Ele explicou que, embora o Tribunal de Justiça possua diretrizes, é composto por “ilhas”, e o papel de cada uma delas é buscar por si a excelência. “É como se tivéssemos unidades separadas que compõem um todo, integrado por equipes dotadas de uma certa autonomia, como a criatividade que determina a forma peculiar de tratar os assuntos e enfrentar os problemas. Nesta perspectiva, há uma divisão de responsabilidades, e todos somos responsáveis pelo que acontece”, asseverou.

 

Adiante, comentou as variações na produção dos ofícios de Justiça, consoante a experiência particular e a oscilação do quadro funcional de cada um. Entretanto, comparou a expectativa da prestação jurisdicional com a da assistência médica, ambos serviços considerados essenciais. “Assim como o paciente não entende e não aceita a falta de médico ou a demora no atendimento, o jurisdicionado não entende ou se conforma com a demora de 20 dias para expedição de um mandado de levantamento judicial, por exemplo. E é normal que seja assim, porque sua visão da prestação do serviço público é subjetiva, e ele quer atendimento imediato”, ponderou.

 

Diante desse diagnóstico, Gilson Miranda conclamou a responsabilidade funcional dos servidores em todas as esferas da administração judiciária. “Precisamos melhorar o funcionamento da máquina judiciária, discutir os nossos problemas, resolvê-los e seguir avante, e isso depende de todos nós, desde o mais graduado até o mais simples servidor, porque todos fazem parte de um time. E ele precisa ganhar”.

 

Gestão de pessoas – uma aposta na valorização do indivíduo

 

Em prosseguimento, o palestrante discorreu sobre as relações humanas no cotidiano da prestação jurisdicional. Ele ensinou que não se fala mais em “recursos humanos” e sim em “gestão de pessoas”, nomenclatura que reflete um processo necessário de “descoisificação” do ser humano ou investimento em sua singularidade, o que implica tratar cada um dos 53 mil servidores diretos ou indiretos individualmente. Nesta linha de reversão da reificação humana na nova ordem administrativa, os servidores devem ser vistos como parceiros e considerados fundamentais para o alcance dos objetivos institucionais de distribuição de Justiça com segurança e celeridade.

 

Ele mencionou a propósito o papel apoiador e orientador da gestão exercido atualmente pela Corregedoria Geral da Justiça, atuando como suporte à atividade cartorária, por meio da equipe volante que detecta problemas e faz diagnósticos de gestão e ajuda na organização cartorária em suas distintas realidades. Falou ainda da preocupação permanente do órgão correcional com as boas práticas cartorárias para a otimização da produção, evitando-se o retrabalho e a repetição desnecessária de atos.

 

Adiante, analisou aspectos da liderança na gestão de pessoas, enfatizando a necessidade da identificação e estímulo de líderes dentro das diversas unidades cartorárias, como forma de fomentar a descoberta de soluções para os problemas. “Há situações em que o líder brota pelo exemplo, pois este sempre vale mais que as palavras. Refiro aquele servidor dotado de disciplina, engajado, portanto, no espírito da equipe, para o qual o diretor de cartório deve estar atento, porque são essas pessoas que trazem inovação e criatividade para o nosso dia a dia”, observou.

 

De acordo com Gilson Miranda, a concepção atual de gestão de pessoas subverte a noção tradicional da submissão dos subordinados à vontade do chefe. Ele citou máximas do estadista norte-americano Dwight Eisenhower (1890–1969), para o qual “líder á aquele que consegue fazer com que seus liderados façam o que mais desejam fazer” e “não se é líder batendo na cabeça das pessoas – isso é ataque, não é liderança”.

 

Neste diapasão, ressaltou as qualidades do líder: “Dotado do atributo da humildade, o líder consegue reforçar os pontos fortes dos membros da equipe. Contra a forma improdutiva da arrogância, o exercício adequado da autoridade é aquele que faz os outros crescerem”, asseverou.

 

Ele lembrou ainda o norte-americano Jack Welch (1935-), considerado o melhor executivo de todos os tempos, para quem “o verdadeiro papel do líder é sonhar e comer ao mesmo tempo”. De acordo com a interpretação de Gilson Miranda, “sonhar é pensar alto, cumprir as metas. E o nosso sonho é ter o melhor Judiciário do planeta, atender da melhor forma os consumidores da Justiça. Comer é ter o pé no chão, a humildade necessária para o estabelecimento de metas e alcance dos resultados”.

 

Nesta perspectiva, refletiu sobre aquilo que se espera do líder na prestação dos serviços no Judiciário. E invocou a sensibilidade dos gestores para a percepção da necessidade de adequação do potencial das pessoas ao trabalho, e também o diálogo permanente como ferramenta de identificação da realidade cartorária.

 

Gilson Miranda falou ainda do entusiasmo inerente à personalidade do líder, um atributo que o faz proativo. “O verdadeiro papel do líder é puxar e entusiasmar as pessoas”. E explicou a etimologia desta palavra de origem grega, que significa ter Deus dentro de si, ou ter a luz divina como impulso que nos move. “Além de acreditar em si próprio e abrigar a crença de que pode fazer as diferença, o líder consegue dar ao servidor esse poder que ele já tem”.

 

Como última lição, apresentou mandamentos para o relacionamento profissional desejável, arroladas pelo administrador Rogério Góes, quais sejam: 1. Conheça a necessidade do “outro”, entenda o que ele realmente precisa; 2. Ouça com atenção; 3. Cumpra o prometido; 4. Dê sempre retorno rapidamente; 5. Todos querem sentir-se a pessoa e não mais uma pessoa; 6. Boa sugestão? Dê crédito a quem a sugeriu; 7. Seja cordial sempre: bom dia, boa tarde, peça desculpa, elogie, oriente; 8. Mantenha o relacionamento ativo: dê feedback e peça feedback; 9. Não descuide da “manutenção” do relacionamento, vital para o cumprimento das metas.

 

ES (texto e fotos)

 


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