Privação, delinquência e tendência antissocial são analisados no curso “Compreender a criança e o adolescente: uma visão em Winnicott”

A palestra “Deprivação, delinquência e tendência antissocial”, ministrada hoje (2), na EPM, pela psicóloga Tereza Marques de Oliveira, deu continuidade ao curso Compreender a criança e o adolescente: uma visão em Winnicott. A aula contou com a participação do desembargador Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, coordenador do curso da área da Infância e Juventude da EPM.

 

A palestrante explicou inicialmente que o termo “deprivação” é relacionado à falta, ausência ou carência, com a derrubada de algo que a criança tinha e era necessária ao seu desenvolvimento, mas que desmoronou em algum momento. “Em geral, encontramos nas obras o termo “privação” e não “deprivação”. Mas “deprivação” é um termo que se vincula à experiência de desapossamento da criança do seu objeto de amor ou, melhor, da sua capacidade de encontrar o objeto de amor.”

 

Em sua exposição acerca dos estudos dos distúrbios do desenvolvimento, realizados pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, Tereza Oliveira salientou que a tendência antissocial (TAS) na criança é, na maior parte dos casos, uma manifestação de esperança, e não uma patologia. Ela explicou que esta conclusão do médico derivou do estudo de casos clínicos durante a II Guerra Mundial, quando exerceu um papel importantíssimo como organizador e terapeuta em um comitê formado para a evacuação da cidade de Londres, cuja tarefa era desenvolver e criar abrigos para colocar crianças que tinham perdido suas famílias e seus lares.

“A grande criatividade e originalidade de Winnicott foi consentir esse novo olhar ao comportamento antissocial. Diferente de um comportamento destrutivo, ele via saúde nessa tendência, de maneira que, quando uma criança rouba, mente, quando continua com uma enurese (micção involuntária), aí está um sinal de esperança; ela está voltando novamente à vida”, ensinou.

 

Adiante, a psicóloga acrescentou que, em 1939, juntamente com os psiquiatras John Dolby e Emmanuel Miller, Winnicott escreveu uma carta para o British Medical Journal, explicando porque “a evacuação de crianças pequenas, entre dois e cinco anos, apresenta problemas psicológicos maiores, pois a separação prematura da criança do lar poderia significar muito mais do que a óbvia experiência de tristeza; para a criança na primeira infância poderia, de fato, chegar a ser um blecaute emocional”.

 

Tereza de Oliveira aduziu que o conceito TAS desenvolvido por Winnicott, não é um diagnóstico, como a neurose e a psicose. E afirmou que o ato antissocial é um imperativo, uma compulsão, que pode estar presente tanto no desenvolvimento normal quanto nos quadros patológicos, tanto no adulto quanto na criança.“Quanto mais a criança confia em seu lar, mais vai colocá-lo à prova, resistir e usar o ambiente de uma maneira própria. Vai riscar paredes, móveis, boicotar as regras, ter noites que não dorme, não querer comer a comida da mãe e preferir a comida oferecida pela tia ou pela vizinha. Pela visão de Winnicott, essa criança não está doente e sim saudável; está experimentando o seu ambiente”.

 

A palestrante observou, por outro lado, que quando a tendência antissocial apresenta condutas muito perturbadoras, as quais o ambiente do lar não consegue conter, assume o caráter patológico. “Num extremo, temos as perturbações normais, que acompanham o desenvolvimento; noutro, temos as tendências antissociais dos psicopatas, dos criminosos, cuja recuperação é muito difícil”.

 

ES (texto e fotos)


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