Teorias críticas da Escola de Frankfurt são debatidas na EPM
“Normatividade e crítica: Escola de Frankfurt”, foi o tema da aula ministrada na EPM, no último dia 27, pelo professor Silvio Ricardo Gomes Carneiro. A preleção fez parte da programação do curso Os clássicos do pensamento político, e contou com a participação dos coordenadores do curso, desembargador Eutálio José Porto Oliveira e professor Rodrigo Suzuki Cintra.
O palestrante discorreu sobre as fases de “uma tendência crítica que atravessou o século passado e vem até os dias atuais”, materializada no pensamento filosófico político, social e epistemológico (teoria do conhecimento) de Carl Grünberg, primeiro diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, criado em 1924 na Alemanha, na chamada Escola de Frankfurt. “Esse primeiro período decorre de um debate muito forte na República de Weimar nesses anos, em que emergiam novos direitos sociais e o Partido Social Democrata chegava com força no Estado alemão pela primeira vez”, observou Silvio Carneiro.
Ele também contemplou na análise o pensamento de outros integrantes da Escola de Frankfurt, como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen Habermas, Walter Benjamin, Axel Honneth, Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Herbert Marcuse, filósofos herdeiros do pensamento de Immanuel Kant, cujas principais atividades acadêmicas foram dedicadas à reflexão crítica sobre a sociedade, com formulações teóricas sobre categorias como Marxismo e teoria social.
Silvio Carneiro explicou que a Escola de Frankfurt desenvolveu em sua essência uma crítica da razão. “Enquanto Kant colocava a razão num tribunal, pondo limites à razão especulativa, Hegel a colocava no palco da história. A luta da teoria crítica é fazer com que o homem realize a sua humanidade”, asseverou o professor, para indicar as linhas fortes desse debate sobre os juízos da razão na modernidade, que opunha a teoria crítica à teoria filosófica tradicional.
Comentou ainda um quadro das fontes do materialismo interdisciplinar, as diversas frentes do conhecimento humano que sustentam a teoria crítica que está na base dos debates realizados pelos alemães. Falou da Filosofia Social estabelecida por Horkheimer e Marcuse; da Teoria da Cultura, cujos principais representantes são Benjamin, Siegfried Kracaeur e Adorno; da Teoria do Estado, desenvolvida pelo economista Friedrich Pollock e pelos juristas Franz Neumann e Otto Kirchheimer; e das linhas traçadas por Erich Fromm no campo da Psicologia.
Outro tópico abordado foi a “dialética do esclarecimento”, uma corrente deflagrada por Kant e continuada na Escola de Frankfurt, que buscava entender as contradições da razão na saída da idade mítica, pelas quais os fundamentos humanísticos do Iluminismo francês de Rousseau e Diderot e o processo de emancipação do homem desaguaram na racionalidade enferma que sustentou, por exemplo, o Estado nazista e “outras figuras nefastas da contemporaneidade”.
Silvio Carneiro também discorreu sobre conceitos como “sociedade unidimensional” e “sistema de oposições integradas”, desenvolvidos por Marcuse, segundo os quais as estruturas de poder se apropriam do imaginário humano, integram e dissolvem as contradições sociais, corroendo o pensamento crítico e impedindo a emancipação humana. Ele lembrou que, segundo Marcuse, no prefácio à obra Eros & Civilização, “há uma hora em que o nosso corpo não mais consegue viver nesse mundo kafkiano, que nos transforma em baratas, e vai explodir”.
Essas tensões insolúveis da modernidade levariam pensadores posteriores, como Habermas e Honneth, uma geração adiante, mas ainda na linha da teoria crítica iniciada com Grünberg nos primórdios do Instituto de Pesquisas Sociais, a pensarem, como as diferentes frentes da sociedade podem se estruturar num Estado de Direito de maneira tal que os direitos objeto de suas lutas passem a ser reconhecidos.
ES (texto)