Pensamento de Charles Maurras é analisado por Ricardo Dip na EPM

O desembargador Ricardo Henry Marques Dip foi o palestrante da aula de ontem (10), do curso Os clássicos do pensamento político, dedicada ao estudo das ideias do pensador francês Charles-Marie-Photius Maurras (1868–1952). A preleção contou com a participação do coordenador do curso, desembargador Eutálio José Porto Oliveira.

 

A aula teve como tema “O nacionalismo integral de Charles Maurras”, uma linha de pensamento desenvolvida no contexto histórico do realinhamento dos estados nacionais europeus no período pós-Revolução Francesa, na transição do século XIX para o XX, que defendia o restabelecimento da aliança tradicional entre o sistema monárquico e o clero para a restruturação do Estado francês.

 

No exercício de síntese que fez sobre o “nacionalismo integral” de Charles Maurras, o palestrante explicou que o pensador fez em seu tempo a leitura da ordem do passado francês com influência do pensamento católico e cristão e acusou a república de ter enterrado séculos de uma monarquia de grande vitalidade para a França. Nesta perspectiva, Maurras preconizava a reestruturação da França por meio de uma monarquia orgânica não parlamentar, descentralizada, e não propunha que fosse a forma de governo adequada para todos os países do mundo, mas relevante e parte das entranhas da França.

 

“Uma das ideias seminais de Maurras era a devolução dos poderes intermediários, ou seja, um reconhecimento do poder usurpado às instituições, diferente das concessões republicanas, iniciadas com a supressão do poder das corporações de ofício pela Revolução Francesa”, observou o expositor.

 

De acordo com Ricardo Dip, a defesa da ordem da civilização ditada pela Igreja para o soerguimento “dessa França destruída”, considerava a Igreja por sua importância institucional moral no processo civilizatório, e não pelo aspecto teológico ou como dogma religioso. “O que interessa a Maurras, um agnóstico, não é o aspecto espiritual, mas a ordem política representada pela Igreja. E foi justamente essa defesa não dogmática que levou à proibição da leitura de suas obras pelo papa Pio XI, entre as quais, L'Enquette sur la Monarchie. E há reflexos de seu pensamento cristão não dogmático no pensamento católico atual, como a Teologia da Libertação”, ensinou.

 

Também jornalista, fundador do movimento e periódico nacionalista Action Française, Maurras sofreu a pecha de antissemita no processo de demonização de toda xenofobia que se instaurou após o holocausto nazista. Mas Ricardo Dip esclareceu que esse “antissemitismo” era apenas mais um dos elementos integrantes do rechaço generalizado a qualquer influência estrangeira na condução do Estado francês, desenvolvido pelo pensamento político de Maurras. “Maurras não quer pensamentos de caráter universal que possam influir na França. Isso não quer dizer que separa um judeu ou um cristão só pelo fato de ser judeu ou cristão, tanto que acolhe uns e outros no movimento da Action Française. Mas o faz enquanto esses se ajustam ao modelo do nacionalismo integral francês”.

 

Eutálio Porto comentou o papel importante que a monarquia teve na restruturação dos estados europeus, por oposição ao modelo republicano, citando como exemplo de estado sólido do ponto de vista econômico-financeiro a Inglaterra. Também falou da importância das representações religiosas pagã e cristã na construção do pensamento de Charles Maurras. “O filósofo trabalha a questão do nacionalismo integral sob os influxos da confluência entre paganismo e cristianismo, ainda no período de unificação de territórios e de construções das identidades nacionais europeias”, observou.

 

Ricardo Dip concluiu a exposição com uma reflexão sobre conduta moral e metafísica e sobre o papel dos modelos políticos para o aprimoramento humano, lembrando o movimento histórico pendular dos fracassos no campo político. “De nada adianta a reforma política externa sem um compromisso ético com bases metafísicas, Se não reformarmos o homem, devolvendo-lhe o primado da verdade, do bem, do uno, do justo e do belo, como deveres antropológicos que se impõem a todos, só conseguiremos paliativos e marcharemos para um resultado desastroso”, sustentou.

 

ES (texto)


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