Mediação e disputas são estudadas no curso de Métodos alternativos de solução de conflitos
A aula de hoje (31) do Curso de especialização em Métodos alternativos de solução de conflitos da EPM foi dedicada à análise do tema “Mediação e disputas”, conduzida pela terapeuta familiar e mediadora Mónica Haydee Galano, com a participação do juiz Ricardo Pereira Júnior, coordenador do curso.
Na abertura dos trabalhos, Ricardo Pereira Júnior ressaltou a atuação da palestrante como divulgadora da mediação no Brasil: “ela é uma das precursoras dessa ideia de realizar a pacificação efetiva, não necessariamente através do processo, mas principalmente através do trabalho com as pessoas, do acolhimento, da recepção, do “desarmamento”, da escuta dos seus discursos e do aplainamento do conflito”.
Mónica Galano apontou preliminarmente a importância dos estudos multidisciplinares ou “religação dos saberes”, termo proposto pelo sociólogo francês Edgar Morin para uma nova concepção do conhecimento, em substituição à especialização e à fragmentação de saberes, no contexto de regeneração da cultura humanista. Ela ressaltou especificamente a estreita ligação entre Direito e Psicologia para o entendimento da estrutura psíquica das disputas e conflitos e das técnicas para resolvê-los.
“Na tentativa de simplificar o conhecimento, há um empobrecimento, porque se cortam as interligações, e é nas interconexões que muitas vezes está a chave para entender porque uma questão conecta-se com outra. A partir dos novos paradigmas criados a partir dos anos 1970, a Ciência começou a fazer uma religação de saberes para a melhor compreensão dos fenômenos, mas nos custa muito, porque a Ciência holográfica ou mais complexa ainda não chegou a ter instrumentos suficientemente bons para poder fazer esse trabalho”, asseverou a professora, para quem tudo que se relaciona com o ser humano é complexo e multidisciplinar, aduzindo que tanto a Medicina quanto o Direito deveriam estudar a Psicologia.
Nesta senda, ela estabeleceu uma diferenciação acadêmica sobre conflito, disputa e litígio, o que acontece com o cérebro, como é a escalada até o litígio, como o processo do conflito vai se acirrando e como a mediação pode reverter esse processo.
Ela abordou as relações entre sensibilidade e linguagem, categorias elaboradas “em um cérebro que organiza e estrutura as relações sociais”. Ensinou que o ser humano é ser na linguagem, porque não sente puro, e na medida em que sente dá palavras às emoções. “Disso deriva que o pensamento constitui-se por palavras em função de um sentimento, e é por isso que pensamento e sentimento em conflito é uma coisa só. Viver o conflito na ação já indica outro momento, e eventualmente um conflito pode chegar a ser agressivo quando defendemos uma posição de forma muito acirrada”.
Mónica Galano falou da sede das emoções e, por definição, o lugar cerebral que, por ser instintivo e emocional, é a sede dos conflitos por excelência. “O chamado ‘cérebro reptiliano’ é responsável pela conservação da vida: qualquer ameaça à nossa existência fará o nosso cérebro disparar”.
De acordo com a professora, uma vez estabelecida essa noção da origem instintiva dos conflitos, o processo de pacificação das tensões entre pessoas exige necessariamente uma espécie de purgação ou catarse. Se a palavra pode ferir, também pode redimir, e é por meio dela que os envolvidos transitam de um estágio emocional para o plano da racionalidade, uma condição necessária para a solução do litígio”.
ES (texto e fotos)