EPM conclui o curso 'Aprofundando a compreensão da criança e do adolescente: uma visão em Winnicott'
Com a discussão das fraturas éticas nas relações humanas, violência doméstica e casos atendidos no Judiciário, foi encerrado hoje (7) o curso Aprofundando a compreensão da criança e do adolescente: uma visão em Winnicott da EPM.
Iniciado em março deste ano, o curso foi dividido em dois módulos, sob a coordenação do desembargador Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, coordenador da área da Infância e Juventude da EPM e vice-coordenador da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do TJSP.
A exposição dos temas e a supervisão dos debates estiveram a cargo dos psicólogos e psicanalistas Afrânio de Matos Ferreira, supervisor e coordenador de cursos do Instituto Sedes Sapientiae, Márcia Regina Porto Ferreira, Sandra Tschiner, Sueli Hisada e Tereza Marques de Oliveira.
Entre os temas discutidos ao longo do curso, na interface dos institutos jurídicos correlacionados a categorias psicanalíticas, como o desenvolvimento emocional primário, as psicopatologias na infância e na adolescência e a teoria do vínculo materno, estão a adoção, guarda na separação, destituição do poder familiar e alienação parental.
Conhecimento em mão dupla
Tereza Marques de Oliveira falou sobre a discussão e a reflexão de casos práticos desenvolvidas ao longo do curso, “um laboratório para que os participantes possam expor e debater problemas do cotidiano forense”, conforme afirmou Reinaldo Torres de Carvalho no primeiro encontro.
A psicóloga revelou ter percebido, com um misto de surpresa e prazer, que os alunos traziam a experiência de muitas situações práticas, às quais faltava aplicar justamente a ferramenta teórica elaborada pelo psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896-1971) sobre o desenvolvimento psíquico da criança e do adolescente, que trata, por exemplo, das experiências que constituem rupturas nesse desenvolvimento. “O curso abre alternativas de reflexão sobre as práticas, e propicia que os alunos fundamentem seus relatórios com o resultado dessa reflexão, e que os juízes levem a teoria em consideração nas suas decisões”, observou.
Sandra Tschiner lembrou o principal fundamento do apoio da teoria psicanalítica à atividade judicante: “o objetivo é o alívio do sofrimento humano, e para isso a temos que entender como funciona o psiquismo e as relações humanas. Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento psíquico formulada por Winnicott serve para pensarmos os conflitos familiares envolvendo a criança e o adolescente submetidos ao exame do Judiciário. E é uma grata satisfação perceber, ao final do curso, como os alunos passaram a articular o conhecimento da teoria com os casos enfrentados no dia a dia”.
Ela também comentou a democratização da Psicanálise aberta com a divulgação da teoria: “chamamos de Psicanálise extramuros, porque se antes a Psicanálise era vista como um atendimento entre quatro paredes, entre analista e paciente, agora pode ser aplicada, por exemplo, ao campo da atividade Judiciária, do esporte, da educação”.
Nessa perspectiva, também se manifestou Tereza Marques de Oliveira, que apontou os benefícios evidentes dessa proposta psicanalítica, explicando que apenas uma porcentagem muito pequena da população tem acesso à experiência do divã ou ao atendimento personalizado. “Winnicott abre a Psicanálise com propostas ou técnicas, tornando-a acessível à população”, observou.
De acordo com a avaliação das professoras entrevistadas, a interação com os alunos propiciou a aquisição do conhecimento em mão dupla. Elas afirmaram que os alunos saem do curso melhor preparados para lidar com as questões jurisdicionais dos conflitos envolvendo a gestação, a infância, a adolescência e as configurações familiares, mas também foram unânimes em reconhecer que ampliaram muito seus próprios conhecimentos com a análise dos casos e das práticas relatados pelos participantes.
ES (texto e fotos)