Pesquisas de opinião pública são discutidas no curso de Direito Eleitoral e Processual Eleitoral
Patrícia Pavanelli foi a palestrante.
O tema “Pesquisas de opinião pública – requisitos e limites” foi discutido na EPM no último dia 2 no 4º Curso de especialização em Direito Eleitoral e Processual Eleitoral, promovido em parceria com a Escola Judicial Eleitoral Paulista (EJEP). A exposição foi feita pela diretora de Contas do Ibope, Patrícia Pavanelli, e teve a participação do juiz Sidney da Silva Braga, professor assistente do curso.
Inicialmente, a palestrante apresentou um panorama histórico sobre a evolução da pesquisa eleitoral, lembrando que, em 1824, foi realizada nos Estados Unidos a primeira enquete sobre uma disputa eleitoral. E, em 1916, uma revista norte-americana conseguiu predizer os resultados da eleição, o que se estendeu por cinco eleições consecutivas.
Em 1936, a mesma revista consultou 2,3 milhões de eleitores e concluiu que a popularidade do candidato Franklin Roosevelt não era tão grande quanto a de seu concorrente. Apesar de ter sido realizada uma semana antes das eleições, a pesquisa não conseguiu prever a intenção dos votos. Na ocasião, o Instituto George Gallup usou pela primeira vez uma amostra demograficamente representativa, com três mil pessoas, e previu a eleição de Roosevelt.
No Brasil, Patrícia Pavanelli recordou que a primeira ideia de pesquisa amostral surgiu a partir de uma rádio, por seu proprietário, Auricélio Penteado, que fundou em 1942 o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).
A expositora ressaltou que “a pesquisa é um instrumento democrático, pois está pautada no direito de acesso à informação”. Entretanto, observou que se espera que a pesquisa tenha um caráter preditivo, mas “ela nada mais é que um apontamento de tendências”.
Em seguida, abordou os principais tipos de pesquisa eleitoral no Brasil. Um deles é a quantitativa, que mensura presença, quantifica a opinião de uma pessoa. Outro tipo é a qualitativa, que não tem caráter estatístico. Ela explicou que, na grande maioria das vezes, as pesquisas qualitativas são realizadas em grupos de discussão mediados, o que possibilita a constatação de opiniões e impressões sobre determinado tema ou candidato.
Patrícia Pavanelli elucidou que é muito comum nas campanhas eleitorais o misto das duas técnicas. A partir da pesquisa quantitativa, é possível desenvolver um questionário para levantar numericamente o que foi falado no grupo de discussão qualitativo. Assim, é possível consolidar o resultado das duas pesquisas e mostrar, por exemplo, a porcentagem de rejeição de um candidato e os motivos mais fortes que a justificam.
Ela salientou que as entrevistas pessoais ainda são o mecanismo de maior seleção de todos os eleitores do Brasil, uma vez que nem todos brasileiros possuem acesso à internet ou telefone, e o envio pelo correio pode resultar em extravios.
Em relação à pesquisa por amostragem, explicou que ela deve abranger todas as características regionais (número de entrevistas específicas para cada região) e permitir o detalhamento de alguns segmentos de interesse (homens e mulheres, jovens e idosos, mais e menos escolarizados, porte e tipo de município, nível de renda). Patrícia Pavanelli revelou que o Ibope possui como padrão duas mil amostragens para pesquisas nacionais, pois além dos critérios listados, garante margem de erro de dois pontos percentuais.
A expositora esclareceu que a pesquisa por amostragem é pautada em critérios científicos. Enquanto na enquete não é possível garantir o perfil dos entrevistados, na pesquisa por amostragem existem elementos que permitem sua representatividade. A palestrante observou que o Ibope é um dos poucos institutos que tem como cota sexo, idade, escolaridade e ocupação.
Ela ressaltou que o Ibope disponibiliza relatórios de fiscalização, normas e manuais, relação dos setores censitários onde a pesquisa foi realizada e a lista dos entrevistadores. E acrescentou que, com a informatização, é possível compartilhar o banco de dados preservando a identidade dos entrevistados – exigência feita pelo Código de Ética nas Pesquisas.
Patrícia Pavanelli ponderou que a pesquisa pode influenciar o eleitor, mas não é decisiva. E apontou fatores que contam mais para a decisão, como as notícias lidas pela internet, as conversas com amigos e familiares e o desempenho dos candidatos nos debates.
Por fim, mencionou as tendências para as pesquisas eleitorais em 2018, observando que há chances de que quem fizer pesquisas para veículos de comunicação não possa realizá-las para campanhas políticas. Citou também a possível limitação de divulgação de pesquisas eleitorais até o sábado da semana que antecede a data do pleito.
LS (texto)