Intervenção Federal no Rio de Janeiro é debatida em palestra na EPM

Diversas autoridades prestigiaram o evento.

 

Foi realizada na EPM no último dia 13 a palestra Aspectos inerentes à Intervenção Federal no Rio de Janeiro – consequências e prognósticos, promovida em parceria com a Corregedoria Geral da Justiça. O evento teve como expositores o interventor federal na Área de Segurança Pública no Rio de Janeiro e comandante do Comando Militar do Leste, general de Exército Walter Souza Braga Netto; e o diretor de Controle de Efetivos e Movimentações do Exército Brasileiro, general de Divisão Ricardo Rodrigues Canhaci.

 

A abertura dos trabalhos foi feita pelo diretor da EPM, desembargador Francisco Eduardo Loureiro, que ressaltou o sucesso da palestra e agradeceu aos coordenadores e aos participantes, em especial aos palestrantes, lembrando que a Intervenção Federal tem esteio no artigo 34 da Constituição Federal.

 

O desembargador José Damião Pinheiro Machado Cogan, coordenador do evento, agradeceu à direção da EPM, à Corregedoria e aos palestrantes, salientando que se trata de um assunto de relevância para todos, porque a Intervenção foi decretada para tentar acalmar uma situação que se tornou diuturna no Rio de Janeiro e que envolve o crime organizado. Ele observou que de 500 processos julgados semanalmente na câmara criminal em que atua, 70% são de tráfico. “O Brasil, que antes era de passagem, quebrou barreiras para que a droga ficasse no território nacional, alimentando o crime organizado, e temos visto com frequência armas de uso militar na mão de traficantes e assaltantes, daí a importância de se saber se a Intervenção trouxe uma perspectiva de se resolver o problema no Rio de Janeiro e a ideia de se difundir essa experiência entre as forças de segurança, que não podem ser derrotadas e que precisam estar unidas”, ressaltou.

 

O vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Artur Marques da Silva Filho agradeceu a presença de todos e recordou que a Intervenção Federal surgiu no constitucionalismo norte-americano em 1791, quando os estados produtores de whisky se contrapunham à intervenção federal na tributação e o Congresso estabeleceu requisitos para que o presidente pudesse intervir nos estados. Lembrou que passou a ser prevista na Constituição brasileira de 1891 e que se trata de uma excepcionalidade, que tem por objetivo resguardar a lei e a ordem, sendo possível a intervenção da União em relação aos estados e dos estados em relação aos municípios. “A Intervenção Federal, que se efetiva por meio das Forças Armadas, nem sempre tem a compreensão que deveria ter. Estamos aqui para dar transparência a esse fenômeno e mostrar que respeita os termos constitucionais, a lei complementar que a disciplina e o decreto que regulamenta os princípios que devem norteá-la”, frisou.

 

A mesa de abertura também foi composta pelo corregedor-geral da Justiça, desembargador Geraldo Francisco Pinheiro Franco, também coordenador do evento; e pelos generais de Exército Walter Souza Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante do Comando Militar do Sudeste.

 

Iniciando as exposições, o general de Divisão Ricardo Rodrigues Canhaci apresentou sua experiência no comando da Força de Pacificação que atuou no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, de abril de 2014 a junho de 2015 (Operação São Francisco). Ele lembrou que o quadro não era de intervenção federal e estava localizada em uma região, com a finalidade de restabelecer a presença do Estado e criar condições de segurança para que a Polícia Militar instalasse as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que acabaram não sendo instaladas. Ele recordou a logística da operação, que teve a participação de 3.300 integrantes do Comando Militar do Sudeste; a repercussão entre a população; principais dificuldades e resultados.

 

Ricardo Canhaci asseverou que não adianta fazer só o patrulhamento, se não for combatido o financiamento do crime organizado, inclusive com políticas públicas de educação e de prevenção ao uso de drogas ilícitas, que movimenta o tráfico de drogas. “Tenho a convicção de que podemos reverter esse quadro negativo da segurança pública. Se houver união entre os agentes do Estado e as instituições e soubermos direcionar o nosso esforço, poderemos trazer à população uma condição de vida melhor, com muito mais segurança, e um futuro melhor para as próximas gerações”, enfatizou.

 

Intervenção Federal no Rio de Janeiro

 

Na sequência, o general de Exército Walter Souza Braga Netto discorreu sobre a dinâmica da Intervenção Federal no Rio de Janeiro. Ele recordou que ela foi decretada em fevereiro deste ano para “pôr termo a grave comprometimento da Ordem Pública no Estado”, por meio de dois eixos de atuação: as ações emergenciais e as estruturantes, com os objetivos de baixar os índices de criminalidade no Estado e recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e fortalecê-los como instituições do Estado.

 

O palestrante explicou a estrutura do Gabinete de Intervenção Federal e falou sobre os planos estratégicos de preparação de transição, salientando que já foram realizadas 137 operações, incluindo cerco e investimento, patrulhamento e ação comunitária. Ele mencionou também os resultados de março a agosto, com destaque para as reduções percentuais no roubo de veículos (-27,4%), com aumento de recuperação de 86%, no roubo a estabelecimentos comerciais (-18,65%), no roubo de rua (-9,58%), no roubo de carga (-26,8%) e na letalidade violenta (-18,66%). Ele apresentou também as principais ações desenvolvidas no Gabinete de Intervenção, como treinamento, aquisições e capacitação em gestão e inteligência, e as ações para fortalecimento das instituições, realizadas por meio das secretarias do Sistema de Segurança Pública, Defesa Civil e Administração Penitenciária, entre elas ações na educação, melhoria na articulação das agências de inteligência, aperfeiçoamento de estruturas logísticas, criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância e ações de socorro à população.

 

Por fim, Braga Netto frisou que a Intervenção está atingindo todos os objetivos propostos. “A Intervenção em si é gerencial e constitui uma janela de oportunidades para recuperar o ethos militar da Polícia Militar e o profissionalismo da Polícia Civil no Rio de Janeiro e eles estão envolvidos nisso. Os resultados são positivos, com motivação e liderança, e não tem porque a Intervenção não terminar na data prevista (31 de dezembro)”, asseverou, frisando a necessidade de serem mantidos o planejamento e o critério de meritocracia para o sucesso da Intervenção.

 

Encerrando os trabalhos, o desembargador Marco Antonio Marques da Silva, coordenador da Área de Direito Processual Penal da EPM e também coordenador do evento, agradeceu aos palestrantes e a todas as autoridades presentes. “Essa noite representa o início da comunhão de ideais e de esforços para o bem comum, que todos queremos e para o qual trabalhamos, mas que só conseguiremos se estivermos conversando, trocando ideias, informações, impressões e essa proximidade, que muitas vezes a formalidade afasta e que temos que traduzir”, concluiu.

 

Participaram também do evento o presidente da Seção de Direito Criminal do TJSP, desembargador Fernando Antonio Torres Garcia; o general de Divisão André Luis Novaes Miranda, comandante da 2ª Divisão do Exército; o general de Divisão Adalmir Manoel Domingos, comandante da 2ª Região Militar; o general de Brigada Sérgio José Pereira, chefe da Assessoria de Relações Institucionais do Comando Militar do Leste; os desembargadores Alex Tadeu Monteiro Zilenovski, José Helton Nogueira Diefenthäler Júnior, Luiz Antonio Cardoso, Ricardo Cintra Torres de Carvalho e Ruy Alberto Leme Cavalheiro; o delegado Disney Rosseti, superintendente da Polícia Federal em São Paulo; o juiz Silvio Hiroshi Oyama, representando o presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo; o juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, coordenador da área de Direito Processual Penal da EPM; o coronel PM Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo; o capitão de Corveta Fábio Manoel Pinto, representando o comandante do 8° Distrito Naval; o secretário de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Lourival Gomes; o delegado federal Luiz Roberto Ungaretti de Godoy, diretor de Cooperação Jurídica Internacional no Ministério da Justiça (DCRI/MJ); o coronel PM João Silva Soares Castilho, chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar do Estado de São Paulo; o coronel PM Ronaldo Gonçalves Faro, comandante interino do Policiamento Metropolitano; o coronel PM Sergio Ricardo Moretti, chefe da Assessoria Policial Militar do TJSP; e o major PM Marcos Roberto, supervisor do curso de pós-graduação da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, representando o comandante; entre outros magistrados, oficiais do Exército e da Polícia Militar, servidores e outros profissionais.

 

MA (texto e fotos)


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