Núcleo de Estudos em Direito Urbanístico retoma as atividades

José de Souza Martins foi o expositor.

 

Com um debate sobre o tema “O coração da Pauliceia ainda bate?” foi realizada hoje (3) a reunião inaugural da sexta edição do Núcleo de Estudos em Direito Urbanístico da EPM, com exposição do professor José de Souza Martins e coordenação do desembargador Carlos Otávio Bandeira Lins e do juiz José Eduardo Cordeiro Rocha.

 

A abertura dos trabalhos foi feita pela desembargadora Luciana Almeida Prado Bresciani, conselheira da EPM, representando o diretor da Escola, que agradeceu e enalteceu a participação de todos e destacou a importância do trabalho dos coordenadores do núcleo.

 

O desembargador José Renato Nalini, ex-presidente do TJSP, salientou a importância do tema. “Fico muito contente que um Núcleo de Direito Urbanístico comece com uma exposição que foge do nosso labiríntico raciocínio meramente jurídico, com elucubrações sobre a legislação urbanística, que deixam de lado o que é mais importante. Os nossos magistrados vêm com uma carga imensa de conhecimento técnico-jurídico, mas nem sempre com aquilo que o palestrante poderá mostrar para cada um de nós, que é o contato com o ser humano, os seus dramas, as angústias, a exclusão, a invisibilidade e a crueldade que a cidade hoje propicia a esses semelhantes nossos que não têm a menor dignidade reconhecida, embora a dignidade seja o maior princípio da Constituição Federal de 1988”, ponderou.

 

José Martins salientou inicialmente que a cidade de São Paulo tem sido muito debatida na perspectiva de seus problemas econômicos, sociais, legais, sendo o paraíso da especulação imobiliária, algo absolutamente antiurbano e anticivilizado. “Contudo, há na cidade uma coisa fundamental no urbano que é a poesia. O coração da cidade de São Paulo ainda bate porque, apesar de ser uma cidade minada pelo caráter patológico da urbanização, que tomou conta dela nos últimos 40, 50 anos, a poesia e a arte persistem”, observou.

 

O professor ressaltou a importância de todo sociólogo caminhar pelas ruas da cidade e prestar atenção aos detalhes. Salientou que a cidade é cheia de pequenos detalhes, porém muito significativos, que devem ser percebidos para compreendê-la. “Existe um espírito da cidade de São Paulo. É esse espírito que se manifesta nesse coração que, apesar de tudo, ainda bate. É impossível refletir sociologicamente sobre uma metrópole como São Paulo sem prestar atenção nas evidências daquilo que são a sua alma”, frisou.

 

Ele esclareceu que cidades que se tornam descomunais como São Paulo, tendem a cancelar a visibilidade desse “espírito” da cidade. “Observando essa cidade, fui descobrindo autores, fui descobrindo a cidade e uma das descobertas foi como fotógrafo amador e documentarista”, salientou, destacando a convivência com os moradores de rua. “Há um preconceito enorme contra essa população, desvalida em tudo e também no interesse por aquilo que ela é. É uma vítima, não está lá para nos atacar e nada disso. Frequentemente nas minhas saídas à noite para realizar esse trabalho, eles me ajudavam, me apoiavam, achavam interessante o que fazia. Eu conheci pessoas incríveis. Vimos que muitas pessoas estão nas ruas, muitos com uma certa idade, porque perderam o emprego. É isso que vem dessa história trágica de não se empregar quem têm mais de 40 anos. Essa prática virou uma marca da tragédia social brasileira. Uma pessoa com 40 anos não é incapaz, é um arquivo de informações técnicas, cientificas e de toda natureza. Jogar fora esse capital social é sinal de ignorância, estupidez e as pessoas continuam fazendo isso”, ponderou.

 

José Martins compartilhou diversas histórias atuais e antigas da cidade de São Paulo e salientou a importância de se preservar as memórias da cidade.

 

RF (texto) / Reprodução (imagens)


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