Efeitos do racismo na formação do indivíduo são debatidos no curso ‘Direito e questão racial’
Maria Lucia da Silva foi a expositora.
O tema "Racismo, Direito e Psicanálise: os efeitos do racismo na formação do sujeito" foi discutido hoje (29) no curso Direito e questão racial da EPM, com exposição da psicóloga Maria Lucia da Silva e participação das juízas Camila de Jesus Mello Gonçalves e Flávia Martins de Carvalho, coordenadoras do curso. A gravação da aula pode ser acessada no canal da EPM no YouTube.
Inicialmente, Maria Lucia da Silva discorreu sobre o movimento negro no Brasil, relatando o impacto do racismo sobre as vidas das pessoas negras. Ela explicou que a cultura é um elemento fundamental na constituição do sujeito. “Para falar dos efeitos do racismo na formação do sujeito, é necessário compreender que o seu desenvolvimento se dá a partir de relações estabelecidas em diferentes contextos e dimensões, como geopolítica, qualidade das relações humanas estabelecidas na sociedade e no interior da família e desta com a sociedade, condições de inserção socioeconômica da família, origem e sentimento de pertencimento étnico-social em suas bases sócio-histórico-cultural, que demarcam a trajetória pessoal e coletiva”, ressaltou.
A professora salientou que as condições sócio-históricas são o pano de fundo sobre o qual a história pessoal e coletiva de um indivíduo ou grupo étnico se desenvolve. “Esses aspectos são a estrutura, a base sobre a qual esse indivíduo será acolhido ou não em seu processo de desenvolvimento e onde se desenvolve não só a percepção que o indivíduo tem de si, mas também de como é visto e tratado pela sociedade”, frisou.
Ela acrescentou que negros e brancos são marcados diferentemente pela experiência do racismo. “Enquanto os brancos ocuparam e ainda ocupam um lugar de poder/dominação, negros estiveram e continuam a ocupar um lugar de subordinação/desvalorização”, observou. E ressaltou que o processo de escravização marcou a experiência do racismo vivida pelo povo negro. “Um fenômeno ideológico complexo cujas raízes estão ligadas às necessidades e aos interesses de um grupo social conferir-se como imagem e representar-se e que se revitaliza e mantém sua dinâmica com a evolução da sociedade e das conjunturas históricas, atualizando-se constantemente, mas cuja vigilância constante não é suficiente para garantir e manter a conquista e mudar as estruturas”, afirmou.
A expositora ressaltou que a escola, em um primeiro momento, é a grande reprodutora do racismo, formadora de um sujeito sem história, e fará manutenção do processo de exclusão que a criança negra enfrentará. Ela explicou que os primeiros anos de vida são os momentos de estruturação e maturação física e emocional da criança, em que ela ainda não tem maturidade e conhecimento para compreender as muitas ocorrências que irá vivenciar. E destacou que as crianças constroem uma imagem de si a partir da forma como são tratadas. “Nesse sentido, a partir dessas experiências poderá imaginar que não é boa o suficiente para merecer o cuidado da pessoa ou que alguma coisa errada nela pode estar acontecendo por estar vivenciando situações de humilhações, podendo se retrair como estratégia de defesa para não ser atacada”, observou.
Maria Lucia da Silva explicou, a partir da Psicologia e Psicanálise, a dimensão e os efeitos subjetivos do racismo sobre as pessoas negras desde a tenra infância. Ela expôs relatos de humilhações experienciadas na infância e as dificuldades que as próprias mães têm de lidarem com a discriminação sofrida pelos filhos. “Enquanto o racismo existir teremos nossa saúde emocional de alguma forma impactada”, asseverou.
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